domingo, 5 de abril de 2015

Crônica sobre a Páscoa ... Luis Fernando Veríssimo

"  "O Luiz Fernando Veríssimo escreveu uma crônica hilariante sobre a Páscoa. 
Foi um diálogo absurdo entre um menino, seu pai e sua mãe, sobre o sentido dessa festa. 

A crônica termina com uma observação justíssima do menino. 

                                     Disse ele: "Eu acho que ao invés de "coelho da Páscoa" deveria ser "galinha da Páscoa..." 


Pois é claro. 

Todo mundo sabe que coelhos não botam ovos. 
E todos sabem que galinhas botam ovos... 
Confesso minha ignorância: 
não sei como é que o coelho entrou nessa estória. 

Para início de conversa é preciso lembrar que os textos sagrados 
não fazem referência alguma a esse animalzinho fofo.

Quem foi que teve a ideia de torná-lo 
o personagem mais importante dessa celebração cristã?

Certamente um gozador.

E para tornar a estória mais absurda, fizeram com que os coelhos,
que não botam ovos, botassem ovos de chocolate... 

Nos tempos de Jesus Cristo havia chocolate? 
Acho que não. 

Galinhas não são seres poéticos. 
Na poesia elas sempre aparecem como bichos engraçados, 
cacarejantes, de inteligência curta, 
cuja única função é botar ovos e serem transformadas em canja. 
Assim é compreensível que vocês não gostem da ideia de galinhas de Páscoa.

Eu também não gosto. 

Mas poderia ser "pombas de Páscoa". 
Pombas são seres teológicos. 
Começando com a Arca de Noé. 
A se acreditar no relato do Antigo Testamento Noé, 
para se certificar de que o dilúvio acabara, soltou um corvo. 

Confesso que se eu fosse Noé teria adotado um método mais simples. 
Teria aberto a janela da arca e esticado o pescoço para fora. 
Eu veria, então, que a chuva havia terminado 
e que as plantas já estavam soltando os seus brotos. 

Será que Noé acreditava que o corvo, depois de voar, voltaria para dar um relatório? 
Como é que o corvo comunicaria os seus achados? 
O corvo ingrato não voltou. 
Desde então eles ficaram aves de má fama, injustamente. 
Vendo que o corvo não voltava e sem se dar conta do método mais fácil que sugeri,
ele soltou uma pomba. 
Ah! Ave maravilhosa! 

Voou, viu, apanhou um ramo verde de oliveira, e o trouxe para Noé!" [...]  "

Luis Fernando Veríssimo
(1936 -      ) 
escritor, jornalista, humorista e cronista gaúcho
Crônica sobre a Páscoa*

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