sábado, 28 de fevereiro de 2015

O assassino era o Escriba ... Paulo Leminski

"Meu professor de análise sintática era o tipo do sujeito inexistente.
Um pleonasmo, o principal predicado da sua vida, 
regular como um paradigma da 1ª conjugação.

Entre uma oração subordinada e um adjunto adverbial, ele não tinha dúvidas: 
sempre achava um jeito assindético de nos torturar com um aposto. 

Casou com uma regência.
Foi infeliz.
Era possessivo como um pronome.
E ela era bitransitiva.

Tentou ir para os EUA.
Não deu.
Acharam um artigo indefinido em sua bagagem.

A interjeição do bigode declinava partículas expletivas, 
conectivos e agentes da passiva, o tempo todo.

Um dia, matei-o com um objeto direto na cabeça."

Paulo Leminski
(1944 - 1989)
poeta, romancista, tradutor, compositor, biógrafo e ensaísta curitibano

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